quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Fórum Social Mundial 2008

Tribuna de Minas
Juiz de Fora - 27 de janeiro de 2008, domingo
POLÍTICA


OITAVA EDIÇÃO DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Luta por maior politização marca encontro em JF
Descentralizado, evento foi realizado ontem
aqui e em outras 18 cidades do País.
Documento retirado no final do dia prega necessidade de um mundo melhor.

Táscia Souza
REPORTER

"Juventude sem rebeldia é servidão precoce.” A frase, do livro “Las fuerzas morales”, de José Ingenieros, bem poderia servir de lema para o encontro do Fórum Social Mundial (FSM), realizado, ontem, em Juiz de Fora. A Câmara Municipal foi o palco onde se reuniram diferentes gerações de jovens, desde os que ainda trazem vivas as marcas deixadas pelos anos de chumbo até os que cresceram junto com o renascimento da democracia no país.
Durante todo o dia, cerca de 60 militantes se uniram em torno daquele que é o objetivo de todos os fóruns sociais, desde que a idéia surgiu há sete anos, em Porto Alegre: provar que um outro mundo é realmente possível. O resultado foi exposto numa “Carta de Juiz de Fora”, que será enviada para a organização internacional do FSM e incorporada às deliberações do Dia de Mobilização e Ação Global de todo o planeta.
“Essa é uma luta de várias gerações, mas que depende de renovação. E a gente só vai se renovar se o jovem tiver conhecimento de que é preciso se politizar, para que crianças não sejam arrastadas por carros no meio da rua, para que mães não sejam assassinadas, para que filhos não sejam alvos de violência”, defendeu Fernanda Tardin, uma das organizadoras do evento na cidade. “Isso é decorrência da falta de terra, da falta de emprego, da fome, da falta de habitação. Ser revolucionário não é sair por aí pintando o rosto e gritando, mas reivindicando direitos para que um viva bem e todos vivam melhor”.

72 países
No Brasil, Juiz de Fora e Osasco foram as duas únicas cidades do interior a tomar parte dos debates, que envolveram cidades de todo o mundo, espalhadas por 72 países. “A experiência do fórum descentralizado é de buscar agregar várias forças que normalmente não participariam”, considerou o jornalista Laerte Braga, também à frente do encontro. Na opinião de Laerte, a descentralização do encontro, decorrente do esvaziamento do fórum de 2007, em Nairóbi, no Quênia, mostra, ainda, a força da América Latina como pólo irradiador de discussões. “Houve uma dificuldade muito grande de se fazer o fórum fora do Brasil. Além de Porto Alegre, o único que realmente foi capaz de dizer alguma coisa foi o da Venezuela. Isso mostra que a América Latina tem um peso muito grande.” A união latino-americana foi pregada, inclusive, numa mensagem de paz enviada à cidade pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), guerrilha que domina um quarto do território colombiano. No documento, os guerrilheiros reconhecem seus erros e alegam que só partiram para a luta armada porque foram empurrados. Eles ressaltaram, ainda, que sua atual proposta de luta é de entendimento e integração.

"Se os culpados não forem punidos - e o Governo sabe quem são os culpados, pois a maioria tem respaldo no Congresso -, não adianta dizer: está proibido derrubar árvore"
Carlos Vecchio
Advogado e professor universitário

Ofensiva contra desmatamento“Meio ambiente: quem destrói e por quê?” foi o primeiro tema posto em questão durante o encontro do FSM na cidade. O desmatamento recorde na Amazônia nos últimos meses de 2007, que se transformou em escândalo mundial na última semana, foi um dos principais assuntos abordados pelos participantes. O advogado e professor universitário Carlos Vecchio, convidado a fazer parte da mesa, apontou a agropecuária como um dos maiores responsáveis pela diminuição da floresta. “Qualquer pessoa que passe pela Amazônia hoje vai encontrar queimadas, seja por causa do gado, seja por causa da soja”, constatou Vecchio. “O problema maior está sendo o do gado, embora até o Ministério da Agricultura esteja negando. Mas quem entende de pecuária sabe que, para lucrar com o gado, a terra tem que ser renovada, arada, ter descanso, ter replantio do capim. No entanto, o que acontece na realidade é que eles usam o pedaço aqui, depois desmatam mais um pouco ali”, alertou ele, acrescentando que a prática, além de gerar lucro com a exploração madeireira, evita que o criador gaste com a recuperação da terra. “A ganância brutal é que está destruindo as nossas matas.”
Vecchio ressaltou, ainda, a dificuldade de pôr em prática ações concretas para amainar a degradação ambiental. “O problema é da governabilidade. Uma pessoa com boas idéias leva anos para chegar a um cargo e quando chega, além de não conseguir implantar nenhuma delas, ainda cai”, criticou. Apesar da descrença, contudo, ele elogiou a atuação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, à frente da questão. “Eu acho que a ministra Marina é uma mulher de grande valor. O Governo parece estar acordando para esses problemas e ela vem defendendo isso”, destacou. Segundo Vecchio, porém, ainda falta aumentar a fiscalização da região, além de eliminar a impunidade. “É muito importante que os controles - que são possíveis - sejam de fato aplicados. Tem que haver uma fiscalização efetiva. Se os culpados não forem punidos - e o Governo sabe quem são os culpados, pois a maioria tem respaldo no Congresso -, não adianta dizer: está proibido derrubar árvore. É como chegar no Maracanã e dizer: aqui é proibido fumar.”


"Faltam consciência e atuação política. Enquanto houver fórum, não importa que seja aqui, numa aldeia, na esquina, temos que participar. (...) Tem que haver vacina de conscientização"
Adriana Tasca
Militante argentina
Além do meio ambiente, o Brasil e a América Latina também foram amplamente discutidos no FSM. “Brasil: um caminho institucional e revolucionário” e “América Latina: integrar para libertar” foram os temas que dominaram a tarde. Na visão dos participantes, as lembranças da história do continente no século XX, marcada por ditaduras, são a principal força para não deixar o passado se repetir. Carlos Vecchio, que em 1968 integrou a tomada da Faculdade de Direito da USP pelos estudantes, antes do AI-5, disse acreditar que a experiência serviu como alerta. “Por causa de tudo o que aconteceu o povo brasileiro e latino-americano foi vacinado contra aquelas ditaduras militares de extrema direita”, declarou.
"Durante muto tempo a esquerda enxergou no pluripartidarismo a 'democracia burguesa'. Isto está paticamente extinto hoje. (...) Temo quando a esquerda se nega a ver avanços"
Paulo Roberto Figueira
Cientista político e professor universitário
O cientista político Paulo Roberto Figueira, por sua vez, alertou para a nocividade de todos os fundamentalismos, tanto de direita quanto de esquerda. “A consolidação da democracia depende de avanços institucionais indispensáveis. Durante muito tempo a esquerda enxergou no pluripartidarismo uma ‘democracia burguesa’. Isso está praticamente extinto hoje, mas é preciso que a nova esquerda consiga manter essa visão mais ampla”, argumentou ele. “Temo quando a esquerda se nega a ver avanços”, observou.
“O surgimento de novos governos nos países latino-americanos, mais preocupados com o social, tem gerado uma outra possibilidade de integração”, apontou o professor da UFRJ Eduardo Serra. A união também foi propagada pela militante portenha Adriana Tasca, ativista que veio exilada para o Brasil em 1977, época em que o pai foi assassinado pelos militares durante a ditadura da Argentina. “Em homenagem a ele e a todos os latino-americanos vou lutar para que isso nunca mais se repita”, declarou, emocionada.
Para tanto, Adriana defendeu a participação no FSM como forma de conscientização. “O que falta é consciência e atuação política. Enquanto houver fórum, não importa que seja aqui, numa aldeia, na esquina, temos que participar. Isso é mais importante que vacina contra a febre amarela”, brincou. “Tem que haver vacina de idéias políticas, vacina de conscientização.”


3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Parabens por seu Blog,camarada Carlos!

5 de fevereiro de 2008 às 12:24  
Blogger blogpituxo43 disse...

Prezado Carlos,

Gostaria de saber das ramificações da su árvore genealógica. Também sou Vecchio e estou em vias de obter a cidadania italiana. Meus avós vieram da Sicilia, aonde ainda temos parentes embora eu os deconheça.

3 de julho de 2008 às 07:09  
Anonymous Anônimo disse...

Parabiens Carlitos! que Dios os ilumine en su vida como abogado, porque sé que los abogados son apedreados, culpable, mentiroso, corrupto, .. Digo para defender sus "acusados​​"! que las barreras que la cara o el corazón puede tener, que es tan fraquito, buena suerte Usted, bezit
Io amo mucho, espiero amarte toda mi vida! Un besazo

4 de abril de 2011 às 17:13  

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